06 março 2012

III Porta da Índia de Cultura Livre

Navegar é preciso”. É com este objetivo que re-voltamos nossas forças a esse galope do mar ao Sertão. Sertão verdadeiro, que nas palavras de Guimarães Rosa, “é dentro da gente”, está dentro de nós; nossa cruz, nosso cristo, nossa redenção. Existe cá uma diáspora, esse sertão que nos habita, nos leva a retornar; raízes clamando por reconhecimento.
O Festival Porta da Índia de Cultura Livre teve sua primeira versão em 11, 12 e 13 de Janeiro de 2007 na cidade de São José do Egito, Sertão do Pajeú. Nasceu da iniciativa de artistas amigos que tinham de alguma forma uma ligação com a cidade de São José do Egito, com a região do Pajeú, com esse Sertão, com a poesia de maneira geral, ou simplesmente com a vontade de embarcar.
A ideia era a realização de um evento diferente, que abarcasse varias linguagens e ao mesmo tempo tocasse questões vigentes; as quais nos estavam mobilizando tal práxis e na atenção de certa urgência. A de uma construção que vinha sendo deveras ameaçada, e que na qual enxergávamos importância histórica, artística e cultural dentro das pesquisas que vínhamos fazendo.
Tratavas se, pois, na conjectura da época, do antigo prédio da usina de Beneficiamento de Algodão da cidade, em parelha com prédio armazém da SANBRA (Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro), localizados no centro da cidade de são José do Egito, ao lado da igreja matriz, marco zero da cidade.
O edifício vinha sofrendo uma ameaça de demolição, no entanto queríamos o tombamento. E assim o fizemos, solicitamos, entregando em mãos ao então secretário de cultura da época, Mozart Neves, que coincidentemente aportava pela cidade em louvor de uma solenidade, a inauguração de uma escola.
Entendíamos que o poder público municipal em nada poderia contribuir com nosso intuito de preservação do monumento, então partimos para instancias mais largas, como por exemplo, buscar a interferência do Conselho de cultura do Estado em relação a demolição que por ventura já acontecia, de maneira precária, com trabalhadores descalços, terceirizados pela prefeitura municipal.
Falamos com o secretário de cultura local, mas em vão. Faltava envolvimento e consciência. Á questão da defesa da edificação citada estava nas bocas, nos olhos de saudade e descrença da população egipcience. Ouvimos e registramos em áudio e vídeo histórias diversas ligadas à usina. Dos Jovens uma mística do passado, uma memória material a se experimentar sendo violada, uma vontade de teatro, cinemas, poemas; pelos velhos, a memória disso tudo, indo e acordando entre os golpes dos martelos, dos maçaricos, dos trabalhadores descalços e sem grandes causas, antes a própria sobrevivência, é claro.
No ano seguinte realizamos uma segunda versão do evento. O II Festival Porta da índia de Cultura livre aconteceu em Janeiro de 2008. Outros ventos, outras sincronias. Divulgamos no Programa televisivo Sopa Diário, e a audiência e interesse dos expectadores possibilitou uma maior caravana. Um ônibus com quase cinquenta cidadãos, e outros que seguiram em seus próprios transportes. Lá apareceram artistas de cidades vizinhas e artistas locais. A chegança foi sempre na sexta a noite, onde já íamos montando nossas tendas e circos; nas asas da oralidade, das tecnologias eletrônicas, dos pinceis e pigmentos, nas performances; nos almanaques.
P.S: O projeto visa promover ações alternativas à cultura de massa, realizar em Janeiro de 2013 o . Durante os três dias várias expressões artísticas tomarão conta da ‘terra da poesia’ com apresentações musicais e teatrais, feirinha de artesanato e produtos ecológicos, recitais de poesias e mostras de vídeo e artes plásticas. O festival - historicamente realizado de forma colaborativa - acontece no prédio da antiga usina de beneficiamento de algodão e nos seus arredores. O encontro visa incentivar no Pajeú experiências livres na dança, música, teatro, literatura, vídeo, rádio, artes plásticas, alimentação natural, educação ambiental e economia solidária.
Nessa terceira versão do evento a intenção é ter como homenageado o Profeta Manoel Luiz dos Santos, almanaqueiro, ícone desse estilo literário, com 64 anos de publicações contínuas fazendo suas previsões, dando seus conselhos. É autor de Nordeste Brasileiro, folheto mais antigo em circulação no Brasil. No evento exibiremos registros vídeo etnográficos sobre o ofício dos almanaques, leituras sobre Manoel Luiz; da história de vida a feitura artesanal de seus folhetos, seus prognósticos, suas poesias e seus causos. As imagens são parte de uma pesquisa maior sobre a temática, que teve inicio em 2010 e ainda vem se desenvolvendo.
Homenagear Manoel Luiz em seu ofício de almanaqueiro, é por vez a assunção da egrégora nômade; a consciência e a busca do almanach por excelência. Não obstante que tenha sido Janeiro o tempo que se escolheu pra acolher nosso evento, com ares de reis magos orientados por estrelas, cheios de místicas e regalos.

marcolina

Mamãe véia Marcolina Kariri Xocó, Pipipã... do povo das Macambiras Avó véia, anciã avó da minha avó Rita Que resistiu nesse tempo Raiz da te...