02 março 2009

Toto e o cinema (outros tijolinhos)



A usina é o Cinema Paradiso no fim
É o pomar dos limões da Palestina
É o país de são saruê narrado
[pelos narradores de Javé
No peito da água de Delmiro Golveia
É o zepelim na cabeça de meu amigo Rafael
É o refrigerante de cola da Alemanha Oriental,
[contado pelo professor Peter
E o Rio Negro de Renato no Livro "Antes o Mundo não Existia" descoberto na estante velha
É Ebá Belö
A usina de beneficiamento de algodão
[é o próprio algodão
É o alfinim branquinho de Dona Filó preta
E o alfenim puchado da rapadura 
nas inúmeras noites
com a prima Luana Regina
e o teatro
E Odília fazendo teatro
E Soraya ensinando teatro
E o teatro das mulheres
Das ancestrais de Lua e de e Luciana
De Andreia e de Raíssa
De Karina e de Larissa,
De Ton, Pedro, Alice, Francisco
Nõe, Didi, Jobinho, Antoni
De Cuquinha, Ingá, Maizinho
De Renata e de Marinho
De Zé...

Minhas ancestrais também

Vó Rita,
vó Maria,
Vó Regina...

É Zefa Martinha, minha vó Teta
E a Zefa Tereza no Canto do Mar
A Usina é Theo e seus retratos
E a tela de Paulinho do Amparo
É cada criança que lá estudou, brincou
Entrou no túneo 
Fez capoeira, falou inglês
Que lá sonhou acordada
O desaparecido Luizinho,
A finada Luciana Bocão
Pedro, Zé Menino,
Kleber, Geraldinho
Tia Graça, tio Maurício...
Socorro, Goretti
Moisés Neto pulando a janela
E toda qualidade de criança chegando 
à procura de "tia Clene"
com esperança nos lábios
Cada renegado, doido, diferente, excluído
Na maternal, na capoeira,
na coton mill scool...

Feito a Usina Uzona dos Sertões

É a infancia e a vida
da cigana minha mãe
Sua coragem, sua entrega, sua realeza
Sua admiração pelo pai
Sua pedra de toque
É a memória dela indo embora
E ela indo embora
E ficando a usina
É a piramide que ela criou pra si

A usina é também o meu pai
Seu pão caseiro
O preparo de uma piranha que pescaram
Sua beringelas ao sugo
Suas havaianas furadas
Seu rabo de cavalo
O cuidado, o zêlo
Ana Raio e Zé Trovão
E o Dínamo-touro que foi vendido
E já não há mais
A Usina é a saudade
e a vontade
Enlutada
luta e disputa
Herança, tesouro perdido
Meu castelo e minha ruína
Minha ficção científica,
meu filme antropológico
Meu seriado apocalíptico
Campo arqueológico
Cemitério de índio
Meio de produção
É o sonho sustentável
minha bio construção
Horta agroecológica
E a casa de um Hobit
E o castelo de uma gigante
A terra torre nave mãe
A sede da resistência interestelar
O ninho da rasga-mortalha
O passarinho-morcego que eu inventei
E o meu avô que eu não conheci.
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Eu brincava de X-MEN naquele salão grande alugado pra carros, era a usina. As cabras, as galinhas, as plantas... nascendo dos destroços, das paredes. O ouro brotando em butijas do chão, das paredes. As pessoas sonhavam à noite, os dias mais dourados daquele deserto povoado das pirâmides.
Out, 2009
Anaíra Mahin

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